O site Nature publicou um artigo entitulado "Attention and awareness in stage magic: turning tricks into research" (Atenção e consciência na apresentação de mágica: transformando truques em pesquisa), informando, em suma, que neurocientistas notaram que através de várias técnicas da Arte Mágica poderiam aprofundar o estudo das bases comportamentais e neurais da própria consciência.
Da parte que nos interessa, o artigo explica que os mágicos, além de efeitos especiais e itens secretos (gimmicks), também usam um ou mais dos seguintes dispositivos para manipular a atenção e a percepção humana:
Ilusões Visuais (afterimages): que ocorrem porque circuitos neurais do cérebro aplificam, suprimem, focam e desviam a informação visual de tal maneira a provocar uma percepção no observador diferente da realidade.
Ilusões Ópticas (‘smoke and mirrors’): que diversamente das visuais, não resultam de um processo cerebral, mas pela manipulação de propriedades físicas da luz (reflexo, refração).
Ilusões Cognitivas (inattentional blindness): pois, ao contrário das outras duas, necessitam de um considerável envolvimento de funções cognitivas (mecanismos mentais).
Daí, explicam, por exemplo, que aquele efeito de segurar uma colher (ou uma caneta etc) pelo meio, entre os dedos indicador e polegar, e movê-la para cima e para baixo repetida e continuamente, passando a impressão de que ela amoleceu e dobrou-se no meio, deve-se há um bug entre neurônios de diferentes áreas do córtex.
Também informam sobre um lag de aproximadamente 100ms que nos permite "enganar" o cérebro quando já removemos um objeto do lugar, mas que para o observador ele ainda parece estar ali.
Outro aspecto muito interessante, dentro das Ilusões Cognitivas, trata-se da diferenciação entre:
Misdirection Desfocado (overt): quando o mágico simplesmente redireciona o olhar fixo do espectador para longe do "segredo".
Misdirection Focado (covert): quando o mágico consegue esconder o "segredo" sem precisar redirecionar o olhar fixo do espectador para longe.
Para o método Notório, a Neurociência Cognitiva designa duas "cegueiras":
Cegueira na Mudança (Change Blindness): quando não notamos que algo está diferente do que estava antes. Postei este vídeo em uma publicação antiga, mas vale conferir novamente para melhor o que está sendo dito.
Cegueira Desatenta (Inattentional Blindness): quando simplesmente não notamos a presença de algo apesar de totalmente perceptível.
Das várias experiências realizadas, a da "Vanishing Ball Illusion" (Ilusão da Bola que Desaparece), merece nossa atenção. É aquela mágica clássica em que jogamos uma bola para cima duas vezes e na terceira ela simplesmente desaparece no ar, lembra?
Pois então: neste caso, não são os olhos do observador que foram enganados. Na verdade, é a percepção do movimento anterior que gera no espectador uma interpretação errada do último movimento.
O artigo também mencionada algumas velhas conhecidas técnicas mágicas, como:
• Um objeto diferente, novo, extravagante, em movimento chama mais atenção;
• Um movimento maior esconde o menor;
• Time misdirection;
• Construção de memórias e correlações lógicas ilusórias. Ex.: a mágica da corda indiana.
• Repetições aparentes;
• Não repetir a mesma mágica para a mesma pessoa;
• Usar humor.
Mas e você mago? O que faz para enganar a mente dos seus espectadores?
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