O ilusionista britânico Derren Brown está começando a ficar conhecido no Brasil, ainda que por meios subterrâneos. Quem já ouviu o nome se enquadra em uma de duas categorias: ou gosta de truques de mágica, ou gosta de procurar vídeos interessantes no YouTube. Pessoas que gostam das duas coisas freqüentemente encontram Derren Brown. Surpreende que nenhum canal a cabo brasileiro tenha trazido seus programas de TV (genericamente intitulados Mind Control) para cá.
Derren Brown se autodenomina um “ilusionista psicológico”, utilizando uma mistura de técnicas que vão de prestidigitação a hipnose para realizar truques que parecem impossíveis, ou mesmo sobrenaturais. Mas não o são — e ele faz questão de deixar isso claro, como o racionalista convicto que é. Abandonou o fundamentalismo cristão herdado de seus pais por volta dos 20 anos, e hoje inicia seus shows passando um recado: não sou um feiticeiro, sou apenas um observador agudo.
Começou como mágico fazendo truques de cartas, até perceber que o que o atraía não era a execução dos truques, e sim a relação psicológica entre o mágico e seu público. A partir desse momento, começou a traçar um caminho próprio de performance, misturando “truques de mãos” a “truques da mente”. Achou seu nicho no mercado e ganhou notoriedade na primeira metade dos anos 2000, tornando-se uma estrela da mídia britânica. Apresentações abarrotadas de gente nos teatros e programas de TV similares a um “reality show” de mágica de rua resultam em estatísticas comprobatórias da sua crescente popularidade.
Tudo o que Derren Brown faz, segundo ele próprio insiste, pode ser decupado pela lógica… mas não é fácil entender esses mecanismos, ou simplesmente evitar que o queixo caia, ao vê-lo em ação. Na TV, ele já entrevistou um grupo de vendedores de carros usados e determinou sem erro quais deles mentiam e quais diziam a verdade ao falar do passado. Já recebeu uma resma de retratos de gente viva e gente morta das mãos de um agente funerário; sem saber quem era quem; dividiu as fotos corretamente em duas pilhas, “vivos” e “mortos”. Noutra ocasião, deu a três homens a tarefa de mover um conjunto aleatório de móveis de um cômodo a outro — adivinhando com perfeição em que lugares e de que modo seriam postos os móveis.
Como qualquer profissional do encantamento, ele mantém em segredo algumas de suas ferramentas, mas realmente não se considera mais “mediúnico” do que qualquer pessoa na rua. “Reconheço que sou um pouco ambígüo”, já disse numa entrevista, “mas no momento em que eu explicar completamente um truque, seu encanto se perderá”. Apesar do sucesso como mágico, ele não se alimenta do brilho midiático em escala hollywoodiana que alegra David Copperfield, nem se comporta como um maluco disposto a arriscar a vida publicamente, como David Blaine. Derren Brown é simplesmente muito, muito bom no que faz. E, enquanto nenhuma editora de DVDs brasileira faz uma aposta nesse sucesso internacional, o jeito é apelar. Vários de seus vídeos estão disponíveis na Internet; basta procurar com o mesmo zelo e dedicação que Brown aplica no seu aperfeiçoamento profissional. Para constante deleite de todos nós.