quinta-feira, 31 de maio de 2012

Magia Bizarra - Parte 1

 


O universo do ilusionismo é muito amplo e por este motivo divide-se em várias categorias diferentes. Temos, por exemplo, a Magia Infantil, a Magia de Manipulação, Grandes Ilusões, Magia de Proximidade (também chamada de "Close-Up"), Cartomagia (efeitos com baralho), Mentalismo (Ilusionismo Psicológico) e por aí vai.

Entre todas estas diferentes categorias da mágica, uma que é muito pouco conhecida e praticada é a Magia Bizarra. Pela própria palavra que define esta categoria você já deve ter noção que estamos falando de um tipo de mágica nada convencional cujo apelo maior é chocar apresentando efeitos extravagantes e assustadores.

Um dos objetivos principais da mágica é emocionar. Porém, da mesma forma que na arte dramática, a arte mágica pode provocar diferentes tipos de emoções. A mágica pode fazer você rir, chorar, deixá-lo intrigado, encantado, maravilhado, atônito, e também pode provocar medo, suspense, terror e angústia. Por que não? Milhões de pessoas no mundo todo correm para os cinemas, teatros e parques de diversões procurando justamente por algumas emoções que outros pagam para não sentir. Tudo é uma questão de gosto pessoal!

É claro que em se tratando de pessoas normais, tais sentimentos tidos como negativos, só são bem aceitos quando se sabe que tudo não passa de ficção ou ilusão. É aí que entra a Magia Bizarra! Ela existe justamente para atender a aquele tipo de público que gosta de uma boa história de suspense e terror.

Existe um estilo muito perceptível que separa a Magia Bizarra de outros tipos de mágica. Quando um mágico se propõe a serrar uma mulher ao meio, isto não é magia bizarra, é uma grande ilusão clássica. Porém, se ele encena que o truque falhou, a mulher começa a berrar desesperadamente e o sangue escorre e espirra por todos os lados, aí sim temos uma Magia Bizarra. Querem outro exemplo? Se um mentalista faz uma predição e acerta, trata-se de um número de mentalismo. Mas se ele acende uma vela, consulta uma bola de cristal, invoca os espíritos do além e começa a estrebuchar como se estivesse possuído, aí estamos falando de Magia Bizarra.

Amanhã eu continuarei falando um pouco mais de Magia Bizarra e explicando o que tudo isto tem haver comigo.

Aguarde!

A Mágica não é "coisa" do Diabo

 

Arthur C. Clarke (1917-2008) foi um escritor e inventor britânico, autor de obras de divulgação científica e de ficção científica como, por exemplo, The Sentinel que deu origem a um dos mais clássicos filmes do gênero sci-fi: "2001: Uma Odisséia no Espaço".

Ele formulou três interessantes leis que tratam da relação entre o homem e a tecnologia:

1ª) Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, quase de certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.

2ª) O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se além dele, através do impossível.

3ª) Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.

Chamo a sua atenção para a 3ª lei de Clarke. Esta lei foi elaborada em uma versão alternativa pelo físico e escritor de ficção científica Gregory Benford da seguinte forma:

"Qualquer tecnologia distinguível da magia é insuficientemente avançada."

Tanto Clarke como Benford estavam dizendo a mesma coisa: Não existe mágica no sentido de algo que extrapole as leis naturais.

Segundo o entendimento de Clarke, que foi muito feliz na proposição desta 3ª lei, um feito é considerado como algo mágico ou sobrenatural somente pelas pessoas que desconhecem ou não possuem acesso à tecnologia que possibilitou aquele feito. Muitas invenções científicas do passado foram inicialmente consideradas como feitos mágicos inexplicáveis. Como exemplos clássicos disto podemos citar a invenção da fotografia, do rádio e da televisão.

A versão de Benford não é menos elucidativa no sentido de desmistificar a magia como algo sobrenatural, pois diz que se em algum momento um feito for considerado como mágico ou sobrenatural, na verdade é apenas o conhecimento tecnológico das pessoas que assim o entendem que não está suficientemente avançado.

Portanto, meus amigos evangélicos, eu lhes peço que parem de classificar a milenar arte mágica como "coisa" do diabo. Em especial refiro-me ao segmento da mágica chamado de "mentalismo", que é visto com grande preconceito por aqueles que ainda acreditam que suas técnicas envolvem algum tipo de poder místico ou espiritual. Entendam que vocês apenas desconhecem os princípios lógicos e a tecnologia por trás destes efeitos. Só isto!

É claro que sempre existirão alguns "espertalhões" que tentarão tirar vantagem da ignorância das pessoas. No passado, por exemplo, os sacerdotes egípcios eram vistos como elos com as supostas divindades justamente por realizarem feitos considerados mágicos ou sobrenaturais por aqueles que nada sabiam das técnicas puramente racionais e naturais utilizadas por eles.

Atualmente ainda existem algumas pessoas que se arrogam detentores de poderes místicos e sobrenaturais, porém os mesmos nunca conseguiram passar pelo crivo da ciência. Basta colocá-los em um ambiente controlado e sob os olhares atentos de pessoas que conhecem tantos os princípios como a tecnologia utilizada no ilusionismo, para que seus supostos dons ou poderes simplesmente desapareçam ou sejam desmascarados como meras fraudes.

Robert-Houdin - O Pai do Ilusionismo Moderno


 


Jean Eugène Robert nasceu na França em 7 de dezembro de 1805 e era filho de um dos melhores relojoeiros da cidade de Blois. Embora seu pai quisesse que ele se tornasse um advogado, ele decidiu seguir os passos de seu pai tornando-se um habilidoso artesão relojoeiro.

Quando ainda jovem (meados de 1820) foi até uma livraria comprar uma coleção de dois volumes chamada "Tratado sobre a Relojoaria", porém acabou levando, por um engano do vendedor, um pacote com dois livros de mágica (a coleção Scientific Amusements).

Ao invés de devolver, resolveu ficar com os livros, passando a estudá-los diariamente. Seu interesse pelas artes mágicas foi aumentando até o ponto de ele procurar um mágico amador da cidade (Maous de Blois) para poder receber algumas aulas.

Conforme foi se desenvolvendo como mágico, ele passou a fazer algumas apresentações em reuniões sociais, e foi em uma destas apresentações que ele conheceu sua futura esposa,Joséphe Cecile Houdin, filha de um relojoeiro parisiense. Eles se casaram em 1830 e a partir daí decide adotar em sua carreira de mágico profissional o nome artístico, "Robert-Houdin".

Robert mudou-se para Paris e começou a trabalhar com o seu sogro que era um dos últimos relojoeiros que ainda adotava o minucioso método de confeccionar todas as peças do relógio uma a uma. Com a experiência adquirida na arte da fabricação de múltiplas peças de delicados relógios, Jean se especializou em fabricar brinquedos mecânicos e figuras automatizadas.

Um dia, por mera casualidade, Robert descobre uma loja que vendia mágica e a partir deste achado começa a ter contato com outros mágicos profissionais e amadores. Père Roujol, o proprietário da loja de mágica, mostrou para Robert vários truques mecânicos da época, e ele, com seu vasto conhecimento em mecanismos automáticos, passou a aprimorá-los.

Com o tempo ele começou a inventar e construir os seus próprios mecanismos que utilizava nos shows de mágica. O vídeo que vem logo a seguir pode nos dar uma noção do tipo impressionante de mágica que Robert-Houdin praticava no século XIX: 


 

Agora você já sabe de onde os produtores do filme "O Ilusionista" tiraram as idéias para montar algumas das performances de palco do ilusionista Eisenheim: 



 

Antes de Robert-Houdin, os mágicos eram vistos apenas em mercados e feiras geralmente realizadas ao ar livre, porém ele trouxe as apresentações de ilusionismo para dentro dos teatros e para as grandes ocasiões sociais ou festas particulares, apresentando-se sempre com as mesmas roupas formais utilizadas por seu público naquela época (o estereótipo do mágico de fraque e cartola vem daí). São por estes motivos que o título de Pai do Ilusionismo Moderno lhe cai tão bem.

O que os mágicos fazem quando erram?

Para aqueles que vivem me perguntando o que um mágico faz quando erra uma mágica, o vídeo abaixo irá responder:








Fui!!!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (15)


(Continuação)

UMA MULHER EM DECLÍNIO

Os defensores de Margery a abandonaram um depois do outro, e a mulher, mais velha e mais gorda, procurou a consolação no álcool. As sessões espíritas, entretanto, continuaram e Crandon tentou de manter vivo o interesse em sua “Psique” recorrendo a qualquer estratagema que ele pudesse pensar.

 


Em uma destas sessões, por exemplo, Margery tentou repetir a experiência famosa de ligar dois anéis de madeira tentada 50 anos antes peloProf. Zollner com o médium Henry Slade. “Êxito”! regozijou o Dr. Crandon: Margery tinha podido ligar dois anéis feitos de madeiras diferentes. Por fim uma prova definitiva, sólida de algo que desafiava a física, matéria através de matéria.

Já que não é difícil de disfarçar a madeira ao longo da separação de tal maneira a deixá-la invisível ao olho, foi alegado que só os raios-x podiam estabelecer a verdade. Os anéis então foram enviados a Senhor Oliver Lodge na Inglaterra para prova independente. Quando Lodge abriu o pacote enviado pelos Crandons, no entanto, ele descobriu que um dos anéis tinha sido feito em pedaços, provavelmente durante a viagem. O que podia ter sido a única prova sólida da existência da realidade do sobrenatural, a “Pedra Rosetta” do espiritualismo, não tinha sequer sido bem empacotada. Que pena!

Em 1939, o Dr. Crandon morreu, e Mina, já por então uma alcoólatra inveterada, entrou num estado de profunda depressão. Em uma de suas últimas sessões espíritas, ela tentou saltar do telhado da casa.

Nos arquivos de Prince na ASPR ainda há uma coleção de documentos e relatórios inéditos, escrito pelos cientistas de Harvard e por vários pesquisadores psíquicos, dos quais emerge uma teoria interessante para explicar as sessões espíritas de Margery (Silverman, pp. 380-381). 


 


As sessões espíritas podem ter sido um tipo de charada conjugal com a platéia de Margery não sendo Houdini, nem o grupo da Scientific American, nem os outros investigadores, mas seu marido. Ela ajudou-o a enganar a si próprio sobre suas capacidades psíquicas para poupar a ruína de seu casamento. Eles eram muito diferentes entre si, e Crandon tinha ficado entediado dela logo depois do casamento; no entanto, ele também tinha um temor forte da morte. Ao tentar mantê-lo ao seu lado, Margery acertou na idéia de manifestar espíritos para ele e isto funcionou. Ele agora se sentia como um novo Galileu para o meio milhão de seguidores de Margery, e continuou a exigir novos fenômenos. Veio exigir novas demonstrações da sua esposa com “manifesta brutalidade”.

A opinião dos vários peritos era que Margery queria abandonar as sessões espíritas e confessar a fraude, mas não o fez por saber que isto acabaria com seu casamento. O espião de Houdini, Griscom, tinha mesmo revelado ao mágico que uma vez, quando estava sozinho com a médium, ela expôs a ele sua admiração por Houdini por não ser enganado por ela, e por não ter medo “de dizer onde é o seu lugar”. “Respeito Houdini,” disse a Griscom, “mais que qualquer um do grupo. Tem ambos os pés no chão o tempo todo” (Ibid., p. 383).

A história de Margery acaba com um conto que soa folclórico, mas serve devidamente ao caráter misterioso que a médium tinha criado para si. Sentando ao lado da cama de Margery nos últimos dias de sua vida, o pesquisador psíquico Nandon Fodor lhe sugeriu que morreria mais feliz se ditasse uma confissão a ele e revelasse os métodos que usara para produzir seus fenômenos. Mina murmurou algo indiscernível. Fodor pediu-lhe que repetisse. 

“Certamente,” disse, “Eu disse que você pode ir para o inferno. Todos vocês ‘pesquisadores psíquicos’ podem ir para o inferno”.

Então, algo muito como a velha cintilação familiar de alegria nos seus olhos, ela o olhou e deu risadinhas suavemente:

“Por que você não adivinha?” disse, e deu risadinhas outra vez. “Vocês irão todos adivinhar… para o resto de suas vidas”. (Tietze, p. 184-5).

Fim da série

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BIBLIOGRAFIA

Bird, J. M. 1924. Our Next Psychic, Scientific American, July 1924.

Christopher, M. 1969. Houdini: The Untold Story. New York: Thomas Y. Crowell.

Dingwall, E. J. 1928. Report on a Series of Sittings with the Medium Margery. Proceedings of the SPR, vol. XXXVI.

Doyle, A. C. 1930. The Edge of the Unknown. Reprint: 1992, New York: Barnes & Noble.

Gresham, W. L. 1961. Houdini: The Man Who Walked Through Walls. New York: Macfadden Books.

Houdini, H. 1924. Houdini Exposes the Tricks Used by Boston Medium “Margery”. New York: Adams Press Publishers.

Polidoro, M. 1995. Vaggio tra gli spiriti. (VA): Sugarco.

Prince, W. F. 1923. Review of My Psychic Adventure, Journal of the ASPR, vol. XVIII.

—–. 1933. The Case Against Margery, Scientific American, May 1933. Rhine, J. B. and Rhine, L. E. 1927. One Evening’s Observations on the Margery Mediumship. Journal of Abnormal Social Psychology

Silverman, K. 1996. Houdini!!! The Career of Erich Weiss. New York: Harper Collins.

—–. 1996. Notes to Houdini.!!! New York: Kaufman and Greenberg. Tietze, T. R. 1973. Margery. New York: Harper & Row.

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Artigo publicado na Skeptic, 1997, Vol. 5, Issue 3, tradução gentilmente autorizada

Traduzido por Vitor Moura através da Iniciativa Lúmen. Imagem de capa: The Margery’s Box / N.A.N., 2007. Outras imagens: Felix Physical Seance Circle.


Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (14)

(Continuação) 

O PASSO EM FALSO DE MARGERY

 


Ao redor de 1926 Margery adicionou um novo efeito a seu repertório; talvez um extremo, como veremos. ‘Walter’ alegou que seu corpo etéreo era réplica tão exata daquele que o tinha quando vivo que ele mesmo podia criar uma impressão digital em cera para provar sua presença.

Mina fez uma visita ao seu dentista, o Dr. Frederick Caldwell, pedindo uma sugestão para executar a experiência. O dentista sugeriu o uso de cera dental que faria uma impressão detalhada. Ele amoleceu um pedaço de cera em água fervente e pressionou seus polegares para mostrar a natureza prática da sua proposta. Mina tomou a amostra de Caldwell e pediu alguns pedaços de cera.


 


Essa noite numa sessão espírita que ela tentou a experiência. Pôs alguma cera numa bacia pequena e depois da sessão espírita que duas impressões foram achadas. Margery alegou serem de ‘Walter’.

O Dr. Crandon insistiu em ter um perito do seu conhecimento para autenticar as impressões. Esta figura obscura, mais provavelmente um confederado, era chamada John Fife. Ele alegou ser Chefe da Polícia em Charlestown Navy Yard e um perito reconhecido em impressões digitais.

W. F. Prince, que depois das investigações da Scientific American tinha continuado a colecionar um arquivo de informação privada concernente a investigações pessoais no caso de Margery, descobriu que a Polícia de Boston nunca tinha ouvido falar de Fife. Crandon, no entanto, alegou que o homem tinha achado impressões do polegar sobre o aparelho de barbear de ‘Walter’ que perfeitamente combinava com aquelas deixadas na cera pelo "espírito".

O êxito desta novidade levou o Dr. Crandon a empregar por conta própria um defensor de Margery, E. E. Dudley, para catalogar cada impressão digital deixada por ‘Walter’ durante as sessões espíritas.


 


Ao redor de 1931 Dudley começou por iniciativa própria a colecionar as impressões digitais de cada pessoa que assistia uma sessão com Margery. Desta maneira ele podia desmentir as reivindicações daqueles que diziam que as impressões não pertenciam a ‘Walter’ mas a um confederado vivo. 


 


Dudley estava encerrando suas visitas semanais para colecionar as impressões digitais daqueles que tinham participado em sessões espíritas de 1923 a 1924 quando examinou as impressões do Dr. Caldwell, o dentista de Crandon. Uma vez em casa para comparar as impressões com aquelas de ‘Walter’fez uma descoberta atordoante. Ele cuidadosamente examinou ambas as séries de impressões para estar seguro, mas não havia nenhum erro: as impressões digitais que Margery alegava terem pertencido a ‘Walter’eram idênticas em cada aspecto às do Dr. Caldwell!Dudley não contou menos que 24 correspondências absolutas. Claramente, a médium tinha tomado as amostras de cera em que o Dr. Caldwell tinha pressionado seu polegar para mostrar a Mina o procedimento e feito moldes impressos. Era fácil pressionar os moldes na cera na escuridão e obter a ilusão que uma entidade estrangeira ao círculo de assistentes era a autora.





Dudley informou à ASPR sobre a sua descoberta, masW. H. Button, então presidente da ASPR, respondeu que ele não estava interessado em publicar a notícia.A imagem da Sociedade estava por então demais ligada com a da médium desde que freqüentemente tinham-na defendido e tinha escondido informação desagradável sobre ela.

Prince, que tinha deixado a ASPR por esta razão e tinha fundado a Sociedade de Boston para Pesquisa Psíquica (BSPR - Boston Society for Psychical Research), tinha tido o suficiente. Aceitou a revelação de Dudley e um artigo foi publicado no diário de Sociedade (Vol. XVIII, outubro, 1932).

O escândalo que se seguiu teve efeitos desastrosos. Não era nenhum mero caso de alguém alegando ver a médium usando o seu pé para mover uma mesa; desta vez a prova de fraude era incriminadora e definitiva.





quarta-feira, 16 de maio de 2012

Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (13)


(Continuação)

MALCOM BIRD CONFESSA
 


O que tinha acontecido a Bird? Depois de 1931 seu nome desapareceu da lista de contribuintes da ASPR (American Society for Psychical Research). Desapareceu e nada jamais foi ouvido dele. As hipóteses sobre seu destino variaram de ciúme pessoal dentro da Sociedade a sua aceitação a uma tentativa de uma oferta de trabalho.

Há muito pouco tempo com a descoberta de alguns documentos inéditos, tem alguns novos fatos concernentes ao relacionamento entre Bird e Margery sido divulgados. Prince, em cujos arquivos os documentos foram achados, sugeriu sobre isto em 1933 num artigo em que ele escreveu para a Scientific American


 


"Há cerca de dois anos (…) ele (Bird) entregou a seus empregadores um longo artigo alegando a descoberta de um ato de fraude e reconstruiu sua visão do caso para admitir um fator de fraude bem desde o início. Este artigo não foi impresso e muito poucos dos crentes na Europa ou América sabem de sua existência" (Príncipe, 1933). 

Aqui estão alguns trechos desta relatório/confissão por Bird à Board of Trustees da ASPR (Maio de 1930):


 


"Desde maio de 1924 quando eu primeiramente concluí que o caso era um de mediunidade genuína, minhas observações nunca foram dirigidas em qualquer sentido largo em direção à descoberta de fraude, e mesmo menos em direção a sua demonstração. Como fui junto com minhas sessões espíritas, aqui e ali eu fiz, como uma questão de rotina, observações que algum episódio particular fosse normal em sua causação. Todo que o relatório presente aponta fazer é familiarizar à Board com os dados sobre quais é baseada minha própria mente, a declaração que eu fiz sempre que qualquer ocasião surgisse para fazê-lo: que os fenômenos de Margery não são cem por cento supernormais. Não é agora possível eu declarar positivamente se o episódio ocorreu em julho ou em agosto de 1924… A ocasião foi uma de visitas de Houdini a Boston para sessão. … Ela procurou uma entrevista privada comigo e tentou me levar a concordar, em caso os fenômenos não ocorressem, que eu mesmo tocaria a caixa-sino, ou produzisse algo mais que talvez passasse como atividade por ‘Walter’. Esta proposta era claramente o resultado de estado mental forjado de Margery. Não obstante parece a mim de importância superior, em que mostra que ela, plenamente ciente e normal, numa situação onde ela pensou que talvez tivesse de escolher entre fraude e uma sessão espírita vazia; e estava disposta a escolher fraude" (Tietze, p. 137).

Continua...





Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (12)


(Continuação)

SUSPEITAS E MAIS SUSPEITAS



Um investigador após outro permaneceu insatisfeito com as sessões espíritas de Margery e depois de Dingwall e o grupo de Harvard foi a vez de Joseph Benelux Rhine ficar decepcionado.

Um professor na Universidade de Duque em Durham, Carolina do Norte, Rhine iria eventualmente, em 1935, desbravar o estudo sistemático da parapsicologia num cenário formal de laboratório.

Ele foi convidado pelo sempre entusiasmado Bird à Rua Lime em 1 de julho de 1926, e os Crandons o saudaram com a hospitalidade costumeira. Desde o início Rhine e sua esposa sabiam que teria sido impossível testar os fatos como gostariam. Por exemplo, eles não podiam examinar a substância com as luzes ligadas e Crandon impediu Rhine de examinar os vários instrumentos que encheram o local de sessão espírita que eram supostamente para documentar e medir este ou aquele fenômeno. Ainda o professor foi capaz de notar que as cordas de um artifício que supostamente era feito para prender a médium tinha sido retiradas, permitindo liberdade completa de movimento. Quando Rhine viu Margery chutando com o pé um megafone durante uma sessão espírita para dar a impressão que estava levitando a fraude era clara.


 


Se ele tinha podido detectar todas estas coisas em uma sessão espírita, Rhine perguntou, por que Bird com três anos de experiência não teve quaisquer suspeitas? Poderia ele ser cúmplice da médium? Bird negou as acusações dizendo que aquelas eram as “opiniões pessoais” de Rhine, mas o professor perguntou-se o que podia ter levado a homens como Bird ou Carrington jogar o jogo da médium, e observou: 

"É evidentemente de muita grande vantagem a um médium, especialmente se fraudulento, ser pessoalmente atraente; ajuda no “negócio de pegar mosca”. Nosso relatório seria incompleto sem menção do fato que este “negócio” alcançou o ponto de fato beijar e abraçar em nossa sessão, no caso de um dos admiradores mais ardentes da médium. Deste homem podia ser esperado detectar trapaça nela?" (Rhine, J. B e RHine, L. E., 1927). 


 


Isto parcialmente podia explicar os motivos de Bird e colegas, mas que tal o Dr. Crandon? Se ele era um cúmplice também ele certamente não podia ser motivado pelo desejo de uma aventura com a médium já que ela já era sua esposa. Rhine ofereceu o seguinte motivo:

"(Crandon) gradualmente descobriu que ela o estava enganando, mas já tinha começado a gozar a notoriedade que isto lhe deu, grupos de sociedade admiradora iam a seu lar para ouvir suas palestras e ser entretida, o interesse e fama despertada neste país e Europa, etc. Isto foi especialmente apreciado por ele em vista de perda decidida de posição e prestígio sofrida em anos recentes" (Rhine, J. B e Rhine, L. E., 1927). 

A publicação do relatório de Rhine no Journal of Abnormal Social Psychology causou os protestos inevitáveis pelos defensores de Margery. Sir Arthur Conan Doyle comprou espaço nos jornais de Boston e inseriu um descortês aviso tarjado em preto declarando simplesmente: "J. B. Rhine é um idiota".

Continua...



Houdini contra a Bruxa Loira da Rua Lime (11)


(Continuação)

A INVESTIGAÇÃO DE HARVARD

 


Embora impedido de entrar em mais sessões espíritas de Margery, Houdini tinha um amigo jornalista Stewart Griscom infiltrado entre eles para mantê-lo informado dos últimos desenvolvimentos. Isto permitiu o mágico continuamente atualizar seu plano de exposição para o assombro dos seguidores de Margery.

Os ataques do Houdini receberam apoio de uma investigação conduzida no final da primavera de 1925 por um grupo depsicólogos da Universidade de Harvard. Os resultados publicados noAtlantic Monthly (novembro 1925), revelou que Margery tinha sido observada executando vários tipo de subterfúgios:


 


- Ela tirou uma faixa luminosa colocada no seu tornozelo para denunciar seu movimento e com seu pé livre conseguiu “flu- tuar” um disco luminoso;

- O grupo de Harvard também estabeleceu que ela tinha podido usar o seu pé direito para tocar um sino e tocar os assistentes.

Finalmente, Margery caiu numa armadilha. Um experimentador sentando-se em um lado ofereceu para libertar a sua mão: ela imediatamente aceitou e usou disto tirar algum ectoplasma falso de seu colo e o colocar na mesa.


NOTA DO EDITOR:

Algo me intriga muito nesta história toda. Aqueles que estão acompanhando esta série já entenderam que de todas as manifestações e "fenômenos" espiritualistas que foram devidamente investigados no fim do século XIX e começo do século XX, todos, sem exceção, foram comprovadamente expostos como resultado de fraudes ou truques ilusionistas. Sendo assim, por que motivo movimentos religiosos que possuíam profetas diretamente orientados por Deus, como os Adventistas do 7º Dia com Ellen G. White, insistiam em dizer que tais manifestações eram fruto da ação sobrenatural do Diabo e seus anjos rebeldes? Por que Deus não lhes revelou que tais manifestações não tinham nada de sobrenatural, mas que eram apenas o resultado da ação humana operando enganos e mentiras? A demonização do espiritismo por parte dos crentes, além de ser uma completa ignorância das verdadeiras estratégias humanas por trás dos fenômenos, acaba sendo também o atestado de incompetência do próprio Diabo que não é capaz de criar uma única manifestação verdadeiramente convincente, mas só aqueles truques ridículos que exigem pouca luz e muita safadeza. Não quero com isso ofender a fé dos espíritas, pois os respeito da mesma forma que respeito todas as demais religiões. Porém, só não admito que na ânsia por provar verdadeira suas crenças, fabriquem-se, sem o menor escrúpulo, ilusões com o claro objetivo de enganar e mentir. Uma coisa é pedir para que as pessoas tenham "fé" no mundo dos espíritos e na vida após a morte (acredita quem quiser), outra coisa muito diferente é se fantasiar de fantasma para provar que sua fé é a verdadeira. Bem, acho que vocês entenderam.


Continua...